A situação no principal porto marítimo do Paraná é mais complicada do que parece. Pelo menos foi o que deu a entender o delegado da Polícia Federal em Paranaguá, Jorge Luiz Fayad Nazário, em entrevista coletiva concedida no final da quarta-feira (19), quando falou sobre a Operação Dallas, desencadeada no Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro, para desmontar uma quadrilha de desvio de cargas. No entanto, não foi apenas nos desvios de grãos que a PF se baseou para prender oito pessoas, entre elas o ex-superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA), Daniel Lúcio de Oliveira Souza. Também foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão, e o apartamento do ex-superintendente do Porto, Eduardo Requião, irmão do ex-governador Roberto Requião (PMDB), e de um ex-secretário e atual suplente do peemedebista no Senado, que estariam envolvidos, junto com Souza, na compra de uma draga, superfaturada. A Polícia, por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça e interceptação de e-mails, descobriu, por exemplo, que a compra da draga, por US$ 45,6 milhões, favoreceria o desvio de cerca de US$ 5 milhões, que seriam usados em campanhas eleitorais no Paraná. De acordo com o delegado, houve direcionamento da compra da draga e o grupo pretendia desviar cerca de 20% desse valor para “pessoas na APPA e influentes no Governo que iriam se apoderar desse dinheiro”. Na negociação, conforme a PF, Souza teria recebido R$ 640 mil em dinheiro e um apartamento. Ainda de acordo com o delegado, as escutas telefônicas mostraram que parte do dinheiro arrecadado com a compra da draga seria usada como caixa dois em uma campanha eleitoral, e a outra quota seria dividida entre as pessoas que faziam parte do esquema. Agora, a PF tem bastante material para conferir, fruto das apreensões e que deverão subsidiar as investigações. Vem mais coisas por aí.
Suspeitos se apresentam
Fabricio Slaviero Fumagalli, sócio da Companhia Brasileira de Logística (CBL), e um funcionário da CBL, que não teve o nome revelado, se apresentaram nesta quinta-feira (20) à polícia, segundo informações da Gazeta do Povo. Eles eram considerados foragidos desde que a Operação Dallas foi deflagrada, no início da manhã de quarta-feira (19). Eles são suspeitos de participação no esquema de apropriação indevida de cargas de grãos como soja e açúcar em um terminal portuário de Paranaguá, e agora completam os 10 mandados de prisão expedidos para a operação. Além deles, na quarta-feira quatro pessoas ligadas à CBL, entre diretores e funcionários, também foram presas e estão sendo acusadas de desviar até 4 mil toneladas de produtos por safra no Porto de Paranaguá. O grupo lucraria cerca de US$ 4 milhões (aproximadamente R$ 6,7 milhões) com a venda ilegal dos grãos desviados. Segundo a Receita Federal, autora da denúncia, a apropriação ilegal seria bem maior: 10 mil toneladas de mercadorias por ano seriam desviadas e o lucro chegaria a R$ 8,3 milhões. O delegado-chefe da Polícia Federal em Paranaguá, Jorge Luiz Fayad Nazário, explicou que o material desviado era revendido para um receptador em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, e era transportado com notas fiscais frias. Ele explicou, porém, que não foi determinada a prisão desse receptador, que não teve o nome divulgado, porque os policiais acreditam que ele não sabia do esquema.
Requião comenta
Depois de silêncio obsequioso, o ex-governador e senador eleitor Roberto Requião (PMDB) preferiu não fazer comentários enquanto policiais federais, funcionários da Receita Federal e membros do Ministério Público Federal faziam prisões e apreensões na Operação Dallas. Depois, porém, o peemedebista que, enquanto governador dizia que o Porto de Paranaguá era o melhor do mundo, e o seu irmão, Eduardo, o melhor secretário do Planeta, voltou a postar comentários no Twitter, ondechama atenção ao informar que as denúncias de desvios partiram do mano, ex-superintendente do Porto, que teve seu apartamento devidamente revistado por policiais federais. No Twitter, o ex-governador disse: “Operação Dallas bem sucedida. Havendo culpados devem ser punidos . Confio na lisura de meu irmão. Tudo deve ser investigado”. “..se, por acaso, o mano pecou, que pague o preço. no entanto, melhor aguardar apurações…”. “Sou a favor da mais ampla investigação e tenho confiança no comportamento do Eduardo. A denuncia foi dele”; “O setor privado impede o porto de comprar draga. Os desvios de soja foram denunciados pelo Eduardo”; “Já fizeram busca e apreensão na casa do irmão do Lula. Depois pediram desculpas”. Requião afirma que quem denunciou, primeiro, o desvio de grãos foi Eduardo, mas há quem diga o contrário, que quem apontou as irregularidades, inclusive conquistando a ira de Eduardo, foi a outra irmã de Requião, a Lúcia Arruda, que era a presidente do Provopar.
Depoimento adiado
O ex-superintendente do Porto de Paranaguá, Daniel Lúcio de Oliveira Souza, que passou a noite no presídio Ary Franco, na Zona Norte do Rio de Janeiro, teve seu depoimento adiado por causa do feriado de São Sebastião, ontem (20), na capital fluminense. Souza foi preso, na quarta-feira (19), durante a operação Dallas, da Polícia Federal. Ele deve depor ainda hoje (21). Segundo informações, ele foi detido com R$ 65 mil em dinheiro, que estavam escondidos no fundo falso de um guarda-roupa, além de uma duplicata de R$ 800 mil, emitida por um terminal portuário de Paranaguá.