Blog do Fábio Campana
Entre 23 de julho e 13 de agosto – apenas 20 dias – Osmar Dias, candidato ao governo do Paraná pelo PDT, perdeu quatro pontos percentuais de intenção de voto segundo o Datafolha (caiu de 38% para 34% enquanto Beto Richa, do PSDB, subiu de 43% para 46%). É uma queda de um ponto percentual a cada cinco dias. No período só aconteceu um fato político de grande relevância, capaz de mudar a disposição dos eleitores. Foi o comício da Boca Maldita em 31 de julho, quando o senador se apresentou aos eleitores como aliado de Lula, do PT e do ex-governador Roberto Requião.
O comício em si foi pífio. A Polícia Militar estima que não levou mais que 7 mil pessoas para a Boca Maldita. Mas a repercussão do evento, pela televisão, jornais e blogs massificou a informação que Osmar Dias celebrou uma aliança Requião, aquele que o denunciou como desonesto na campanha de 2006. O comício serviu ainda para mostrar que Osmar, tradicional aliado dos produtores rurais, derrubou a cerca que o separava do PT e de seu polêmico aliado, o MST. O MST marcou presença com militantes embandeirados em frente ao palanque. O eleitor, segundo indicam as pesquisas, não entendeu nem aceitou essa guinada do senador.
Além do choque de ver o candidato confraternizando com seus adversários de ontem o eleitor parece não ter se impressionado com o novo discurso de Osmar, uma cansativa ladainha em torno da defesa da empresa pública (que, por sinal, ninguém parece considerar ameaçada), que já havia sido usada contra ele mesmo em 2006. Esse discurso é um mantra que faz parte do repertório tradicional do PT e de Requião, mas soa estranho e artificial quando entoado por Osmar, que costumava centrar sua pregação política no discurso do desenvolvimento, estímulo a produção, segurança pública, saúde e educação.
O novo Osmar, aliado do PT, de Requião e do MST, tem dificuldades de articular um discurso convincente e até de apontar os problemas do estado, porque um diagnóstico honesto o obrigaria a denunciar fracassos na administração Requião e no governo federal petista, seus novos aliados. No debate da Band na última quinta-feira, 12, Osmar se concentrou em tentar grudar a pecha de “privatizador” ao adversário Beto Richa, em defender o governo Requião e louvar os programas sociais de Lula – programas que criticava como indutores da indolência e estagnação social.
Depois do debate Requião exultou, pelo twitter, com o desempenho de seu novo aliado. “O Osmar tem dois compromissos: defender o meu governo bem sucedido e o governo Lula. E ele se saiu muito bem”, comemorou. Requião tem todos os motivos para estar satisfeito. Disputa o Senado sem opositores fortes e levou o seu adversário de 2006 a quebrar lanças para defender o seu duvidoso legado. O eleitor tradicional de Osmar, a julgar pelas pesquisas do Datafolha (confirmadas pelo Ibope e Vox Populi), é que não parece tão satisfeito.